imagem do Cristianismo entre a população judaica de Israel melhorou nos últimos anos, mas ainda reflete o medo e o ressentimento de séculos de antagonismo e perseguições religiosas.
Faltando menos de três meses da visita do papa Bento XVI à Terra Santa e após um ano de polêmica nas relações judaico-cristãs pelo processo de beatificação de Pio XII, um estudo de dois institutos de Jerusalém reflete que a postura dos israelenses em direção ao Cristianismo evoluiu favoravelmente.
“Cerca de 54% acreditam que deve ser estudado nos colégios e a metade deles vê e reconhece a importância e a centralidade de Jerusalém para o Cristianismo”, disse à Agência Efe Amnon Ramón, autor do trabalho e membro do Instituto Jerusalém para o estudo de Israel.
Realizado por esse Instituto e pelo Centro de Jerusalém para as Relações Judaico-Cristãs, o estudo é o acompanhamento de outro idêntico realizado em 2000 antes da histórica visita de João Paulo II, e compara os resultados com os de outras pesquisas de menor alcance feitas nos anos 70 e 80.
“A conclusão mais importante é que a imagem que os judeus têm do Cristianismo é complexa e multidimensional”, assegura Ramón, que recebeu os novos resultados com otimismo, devido ao tenso cenário das relações entre as duas religiões.
Um dos avanços é que 42% dos consultados acham o Cristianismo “a religião mais próxima ao Judaísmo”, em comparação com 32% que veem desta forma o Islã, que, em contrapartida, é considerado pela teologia oficial judaica como o credo mais próximo.
Além disso, 50% já não consideram o Cristianismo uma “religião idólatra”, histórica acusação judia pelo imaginário que rodeia o Catolicismo, apesar de, para ambas as religiões, a adoração de ídolos ser uma das piores transgressões.
No entanto, séculos de perseguições e conversões à força também deixaram uma marca profunda, e os judeus ainda veem com suspeita qualquer iniciativa na qual percebam o mínimo brilho de “atividade missionária”.
Em um documento de 16 páginas, as instituições expõem que “a abertura e a disposição de conhecer o Cristianismo” entram em choque com posições intransigentes avalizadas por 75% dos indagados que se opõem a que “o Estado israelense destine terras para a construção de igrejas em Jerusalém”.
Além disso, só 37% estão dispostos a permitir que o Novo Testamento seja ensinado nas escolas, por considerarem que se trata de um “livro missionário”, segundo Ramón.
“É uma imagem cheia de contradições a que os judeus têm do Cristianismo”, insiste o especialista, para quem “o realmente importante é a vontade que existe de conhecer a outra religião”.
Um interesse que também se depreende do alto número de israelenses que visitaram uma igreja, 71%, e de sua nova atitude para com o símbolo da cruz, já que 76% afirmam que não se sentem desconfortáveis com o signo.
Mesmo assim, o desconhecimento continua dando o tom na percepção judaico-israelense do Cristianismo, e os consultados não têm ideias claras sobre suas distintas correntes, nem das históricas mudanças nas posturas da Santa Sé em direção ao Judaísmo.
Apesar disso, 58% dos entrevistados confirmaram ver “uma mudança propícia da Igreja em direção ao Judaísmo nos últimos 50 anos”, mas muitos desconhecem a encíclica Nostra Aetate, que, em 1965, eximiu os judeus da acusação de deicídio, origem de séculos de anti-semitismo na Europa.
O desconhecimento e as posições negativas são muito mais pronunciadas entre os judeus que se declaram “religiosos”, talvez porque veem ameaçado seu monopólio espiritual em Israel, um país onde o proselitismo está proibido.
Outro foco de tensão provém de israelenses liberais que veem as religiões, qualquer delas, sob uma estrita ótica secular, e cujas críticas ou ridicularização do Cristianismo inflamam a indignação da Igreja.
O caso mais recente ocorreu há duas semanas, quando um comediante ridicularizou Jesus, sobre quem disse que estava “tão gordo que não conseguiu caminhar sobre as águas”, e escreveu que a Virgem Maria “engravidou aos 15 anos de um colega de classe”.
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