Pelo menos 177 pessoas morreram durante o fim de semana em ataques aos vilarejos da tribo Lou Nuer por homens armados do grupo étnico rival Murle, no sul do Estado de Jonglei, afirmou à Reuters nesta segunda-feira (20) uma autoridade do governo.
"Até as 4h da tarde, 177 corpos já tinha sido encontrados pela equipe", afirmou o comissário do condado de Akobo, Doyak Chol. "Estamos esperando mais de 300 depois que todos os locais forem verificados."
Um porta-voz do Exército do Sul do Sudão, Malaak Ayuen Ajok, afirmou que ainda não conseguiu verificar o número de mortos, mas disse que "não será menor do que 60".
Um círculo vicioso de violência contra o gado no sul do país tem ocorrido na região rica em petróleo desde o acordo de paz, em 2005, entre o norte e o sul, que acabou um dos conflitos mais longos da África, mas deixou muitos civis armados.
O longínquo e pantanoso estado de Jonglei, onde a gigante francesa do petróleo Total possui uma grande e ainda pouco explorada concessão, tem sido palco de ataques desse tipo e mortes, que devastaram comunidades e linhas étnicas.
Eleições e referendo
Analistas internacionais e autoridades do governo do sul têm dito que, além de acabar com a paz, esses confrontos mantêm um clima de divisão antes das eleições nacionais de 2010 e um referendo sobre a independência para o Sul em 2011.
Em março, pelo menos 453 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas em ataques nas vilas Lou Nuer e Murle, vistos como uma retaliação pelo roubo de 20 mil cabeças de gado da tribo Lou em janeiro.
"Desta vez eles visaram seres humanos, não gado", afirmou Chol, referindo-se à violência deste fim de semana, que teria sido realizada por 500 homens armados. "Eles estavam atirando indiscriminadamente. Foi vingança."
Chol não revelou quantos mortos eram Lou Nuer e quantos eram Murle, mas afirmou que os vilarejos Lou desarmados ofereceram pouca resistência.
Em um dos 16 vilarejos atacados, muitas crianças se afogaram em um rio enquanto tentavam fugir, afirmou Choi. Os ataques começaram antes do amanhecer do sábado, acrescentou.
O coordenador regional para o sul da missão da Organização nas Nações Unidas no Sudão, David Gressly, disse à Reuters que uma equipe da ONU viajará na terça-feira para a região, que tem difícil acesso, para avaliar a segurança e as necessidades humanitárias após o episódio de violência.
Estima-se que 2 milhões de pessoas morreram e 4 milhões foram retiradas de suas casas na guerra de duas décadas entre o norte e o sul, causada por diferenças de ideologia, raça, religião e pelo petróleo. Um conflito separado em Darfur, no oeste do Sudão, ainda está ocorrendo.
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