400 mortos durante conflitos armados de cristãos e muçulmanos
ONU pode intervir após cristãos reagirem a massacre iniciado por muçulmanos
Um mês atrás, a ONU alertou que a República Centro-Africana (RCA) é literalmente “um país sem lei”. O embaixador francês na ONU, Gerard Araud, denunciou: “Cresce a cada dia a violência no país. Os muçulmanos atacaram e massacraram igrejas e cristãos. Agora, estão surgindo milícias cristãs dispostas a enfrentar com armas os muçulmanos”.
Oficialmente, a ex-colônia francesa tem 66% de cristãos e 17% de muçulmanos. Mesmo sendo minoria, os muçulmanos querem instituir a sharia, e o conflito político se transformou em uma verdadeira guerra religiosa.
A crise começou desde que a coalizão rebelde Seleka, islâmica, depôs o presidente François Bozizé, em março. Pela primeira vez na história do país, um presidente muçulmano governa a maioria cristã. Com medo de um massacre, surgiram milícias de autodefesa cristãs “Anti-Balaka”, que apoiam o presidente deposto.
Desde a quinta-feira passada, ocorre uma onda de violência no país, que deixou até o momento cerca de 400 pessoas mortas na capital, Bangui, segundo a Cruz Vermelha. O representante do Unicef no país, Souleymane Diabaté explica que até agora já são 480.000 refugiados em todo o país, pouco mais de 10% da população do país.
“Nós assistimos neste momento a deslocamentos em massa de uma população composta majoritariamente de crianças, mulheres e de pessoas vulneráveis que não têm nada. Esses deslocamentos ficaram mais acentuados depois dos últimos ataques a Bangui e a Bossangoa”, acrescentou.
A maioria são cristãos que fogem dos grupos extremistas muçulmanos. Execuções públicas têm deixado dezenas de cadáveres empilhados nas ruas. É possível ver pessoas andando armadas com arco-e-flechas e facões. Daniel Bekele, diretor da Human Rights Watch na África afirma que o Seleka recruta “crianças a partir dos 13 anos para realizar parte destes ataques”.
A França, país que colonizou a RCA, enviou mais de 1.600 soldados ao país, em um esforço para tentar minimizar uma situação que o ministro das Relações Exteriores francês classificou como “um país à beira do genocídio”.
Até o momento não existem informações detalhadas sobre as mortes, mas há indícios que os combatentes cristãos fizeram ataques como represália a vários bairros de maioria muçulmana. As forças muçulmanas, por sua vez, estão envolvidas em execuções sumárias, incluindo casas queimadas e igrejas saqueadas. Estariam, inclusive, invadindo hospitais e retirando os feridos nos confrontos para serem mortos em público.
O pastor Nicholas Guerékoyamé, presidente da Aliança das Igrejas Evangélicas da República Centro-Africana vem condenando a violência e pede: “Nós clamamos a todas as comunidades da República Centro-Africana a não cederem às tentações da divisão religiosa”.
A República Centro-Africana é um dos países mais pobres do mundo, tem sido assolado há décadas por golpes e rebeliões. Desde março, quando ocorreu o golpe de Estado, as forças rebeldes são acusadas de dezenas de atrocidades, incluindo amarrar pessoas e jogá-los de pontes para se afogarem até queima de aldeias inteiras. Embora os muçulmanos neguem, o golpe além do aspecto político tem um forte aspecto religioso. A ONU observa o conflito atentamente e não descarta uma intervenção militar.
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